Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.
Lamentações 3.21 (NAA)
Num mundo dominado pela lógica da razão e pela correria do dia a dia, o céu nos chama à lógica da redenção. Razão quer estar certa. Redenção quer estar perto. A razão aponta o erro; a redenção estende a mão. Por isso, enquanto o acusador (Ap 12.10) vive para ter razão sobre o homem, Deus - nosso Pai - se fez homem para assumir a responsabilidade pelo homem.
Na cruz, Deus não buscou provar Seu ponto. Ele provou Seu amor. Como escreveu o apóstolo Paulo, “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).
A oração do Pai Nosso é menos sobre o que pedir e mais sobre com quem falar.
Jesus não nos deu uma fórmula, mas uma forma, um trilhar. O “Pai Nosso” é um caminho para dentro, não um rito para fora. Ele nos convida a entrar no quarto, fechar a porta e encontrar o Pai que está em secreto (Mt 6.6). A oração não é uma performance para os homens, mas uma presença diante de Deus.
E por falar em presença, a verdadeira oração nasce no espírito - esse lugar que não adoece, não envelhece, não se confunde. Paulo diz que, mesmo que o nosso “homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia” (2 Co 4.16). Espírito não cansa. Espírito não entra em crise. Espírito se renova.
O Senhor Jesus, ao ensinar sobre oração, nos levou ao monte. Não para que orássemos de cima, mas para que conversássemos em outro nível. O “sermão” do monte não foi um púlpito elevado, foi uma conversa aprofundada. Jesus não elevou a voz. Elevou o tom da conversa. Ele não gritou a verdade; Ele a sussurrou no coração dos que subiram com Ele.
A espiritualidade resolutiva quer a bênção, o milagre, a resposta. A redentiva quer o Pai, a comunhão, a transformação. Uma pede para Deus fazer. A outra se rende para Deus ser. Ambas têm seu lugar, mas apenas uma nos amadurece. Exatamente como o escritor anônimo aos Hebreus pondera.
Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos dos oráculos de Deus (Hb 5.12).
Lembrança aprisiona. Memória liberta.
Há quem viva no banco das lembranças, lugar das dores, das faltas, das contas não pagas, dos traumas não resolvidos. Jeremias quase se perdeu lá - até que decidiu acessar o banco da memória. Foi então que ele disse, “Quero trazer à memória aquilo que me pode dar esperança” (Lm 3:21).
As lembranças falam do que aconteceu. A memória, daquilo que permanece.
Lembrança é o eco da alma. Memória é a voz do espírito.
“Orai sem cessar” (1 Ts 5:17). Não se trata de repetir frases, mas de manter comunhão. Não é sobre tempo de oração, mas sobre vida de oração. Oramos quando trabalhamos, quando esperamos, quando suportamos.
A oração não é interrupção da vida. É a respiração da alma.
E por isso, tudo é espiritual.
Não há parafuso apertado, filho embalado ou fila enfrentada que não seja oportunidade de manifestar a glória de Deus (1Co 10.31). Jesus não compartimentalizou a espiritualidade. Ele repartiu o pão, chorou com amigos, riu em bodas e tocou em leprosos - e tudo isso foi oração.
Porque oração é mais do que falar com Deus. É viver com Deus.
É por isso que Paulo ora assim, “Para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior” (Ef 3.16),
e em outro momento assim, “Iluminados os olhos do vosso entendimento” (Ef 1.18).
Uma vida de oração verdadeira é fruto de um coração fortalecido no espírito e de olhos lavados pela Palavra (Ef 5.26).
Jesus, ao interceder por nós em João 17, pede ao Pai que nos santifique na verdade e que sejamos um com Ele.
Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade (Jo 17.17);
Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti (Jo 17.21).
Essa é a oração de Cristo, não que sejamos perfeitos, mas que sejamos filhos.
Não que saibamos tudo, mas que estejamos n'Ele e tenhamos comunhão.
E quando ouvimos essa voz - a mesma que disse a Jesus, “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17) - e a reconhecemos no mais íntimo de nosso ser, então orar deixa de ser uma prática esporádica e se torna uma identidade permanente.
Você não ora porque precisa.
Você ora porque é filho.
Prática Espiritual da Semana
Separe 5 minutos por dia para “orar com a memória”.
Vá a um lugar tranquilo;
Traga à memória três situações em que Deus claramente o sustentou, mesmo que você só tenha percebido isso depois;
Agradeça em voz baixa. Depois, fique alguns minutos em silêncio diante do Pai;
Escreva uma dessas memórias para recordar no fim da semana.
“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.”
Texto da próxima semana
Na próxima semana, adentraremos uma nova dimensão da vida de oração:
“O Pai em Secreto – Onde a porta se fecha e o céu se abre”.
Nos vemos às 7h07 da próxima segunda.
O Pai já está te esperando no secreto.
Dei Gratia,
– Isaac Júnior